Brasília, 25 de agosto de 2025 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ser alvo de críticas nesta semana após um discurso em que relatou um episódio de seu primeiro mandato envolvendo a escolha de imagens para uma campanha do governo. A fala, que foi recortada e repercutida por adversários políticos, gerou acusações de racismo, mas o contexto integral mostra que Lula buscava justamente combater representações negativas e preconceituosas do Brasil no exterior, o que acabou levando à criação do programa Brasil Sorridente.
Durante o evento, Lula contou que um de seus ministros havia levado a uma conferência internacional uma revista de divulgação sobre a agricultura familiar. Na publicação, apareciam duas figuras:
> “E no meio da revista, tinha uma capa com uma senhora bonitona. Devia ser filha de italiana ou de alemão no Rio Grande do Sul ou Santa Catarina, com a bochecha bem vermelha, sorrindo […] e do lado dela um senhor negro, alto, sorrindo sem nenhum dente aqui na boca.”
Segundo o presidente, ao ver a imagem, questionou o ministro:
> “Por que você colocou essa fotografia desse senhor negro sem dente? Você acha isso bonito? Isso é fotografia para você colocar representando o Brasil no exterior? Um cara sem dente e ainda negro. Você não acha que isso é preconceito?”
Lula afirmou que o episódio o fez refletir sobre a forma como o país era retratado no mundo e sobre a desigualdade social que ainda marginalizava milhões de brasileiros. Na sequência, citou o carnavalesco Joãozinho Trinta, que dizia que “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de coisa boa”.
A partir daquela situação, explicou Lula, surgiu a inspiração para a criação do Brasil Sorridente, política pública que ampliou o acesso da população a serviços odontológicos no Sistema Único de Saúde (SUS). O programa foi responsável por implantar equipes de saúde bucal em milhares de municípios, ampliar atendimentos e garantir que milhões de brasileiros — em especial os mais pobres — pudessem sorrir com dignidade.
Críticas e defesa
Apesar do contexto, setores da oposição acusaram o presidente de ter feito uma declaração racista. Em redes sociais, a hashtag #LulaRacista ganhou destaque, e parlamentares pediram até mesmo abertura de processo judicial.
Já apoiadores e especialistas em políticas públicas lembraram que a fala de Lula, embora dura, foi dirigida ao ministro e à forma como a propaganda foi concebida — reforçando estereótipos e associando a imagem do Brasil à miséria. Para eles, o episódio mostra justamente a preocupação do presidente em combater preconceitos e assegurar que os brasileiros fossem vistos de forma positiva e com dignidade no cenário internacional.
O Brasil Sorridente
Criado em 2004, o Brasil Sorridente é considerado um dos maiores programas públicos de saúde bucal do mundo. Com ele, mais de 100 milhões de pessoas passaram a ter acesso a atendimentos odontológicos pelo SUS, incluindo consultas preventivas, restaurações, próteses dentárias e cirurgias.
Ao retomar o episódio, Lula afirmou que a defesa do programa segue atual:
> “Eu resolvi criar o Brasil Sorridente porque o povo brasileiro tem direito de sorrir com orgulho, de mostrar seus dentes, de viver com dignidade.”
Assim, longe de ser um ato de desprezo, o relato buscou destacar a importância de políticas públicas que enfrentem a desigualdade e deem oportunidade para que todos os brasileiros, independentemente de cor ou classe social, possam ser representados com dignidade dentro e fora do país.
Nos últimos meses, o governo federal também reforçou o programa com a entrega de novas unidades móveis de consultórios odontológicos, que irão percorrer regiões de difícil acesso em todo o país. Esses veículos permitem a realização de atendimentos preventivos e procedimentos básicos diretamente nas comunidades, beneficiando principalmente a população rural, ribeirinha e os pequenos municípios que ainda não possuem estrutura odontológica adequada.
Segundo o Ministério da Saúde, a iniciativa amplia o alcance do Brasil Sorridente e garante que o direito à saúde bucal chegue a todos os brasileiros, sem distinção de localidade ou condição social
